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Crimes do Futuro (Crítica)

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O que o futuro nos reserva? O que de pior pode acontecer? Pegando esse aspecto mais pessimista, da segunda questão, o diretor David Cronenberg aposta no horror, vindo do seu próprio interior. Tudo de maneira artística. “Crimes do Futuro”, seu mais recente lançamento, nos permite imaginar um futuro distópico, onde a humanidade evoluiu tanto, que conseguiu eliminar todo o tipo de doença e de dor física. Entretanto, isso teve um preço, já que também se perdeu a capacidade do ser humano de sentir a própria pele.


O Universo, então, se monta de maneira dolorosa, no sentido mais emocional. A perda do sentimento físico permitiu que a humanidade apelasse mais para novas cirurgias, principalmente as de natureza plástica, como uma forma de arte, celebrando cortes em nossa própria pele, como uma manifestação de prazer. Nosso corpo passou a ser um objeto de estudo e admiração. O maior expoente de área é o Dr. Saul Tenser (Viggo Mortensen), um médico que ganha a vida se apresentando ao lado de sua parceira, Caprice (Léa Seydoux), e juntos eles removem órgãos de outros humanos, nos palcos.


Ao mesmo tempo, temos o vislumbre da jornada de Timlin (Kristen Stewart), uma admiradora do trabalho de Tenser, que nutre o desejo de ser cortada pelo médico. Além dela, ele acaba conhecendo um garoto, capaz de ingerir plástico, o que gera um sentimento de curiosidade, por parte do cientista.


Apesar dessas trajetórias serem muito interessantes, cada uma a sua maneira, Cronenberg não consegue dar um sentido de unidade entre elas.


Como um contraponto, há apenas um Registro Nacional de novos órgãos, que funciona como uma espécie de divisão policial que combate a evolução, descontrolada. Porém, nada disso é desenvolvido plenamente.


É incrível como se passa uma hora de filme (praticamente, metade) e nada cresce, apenas é apresentado. Ou seja, temos uma bela construção atmosférica, mas que infelizmente, não é contemplada com o resto da jornada.


Apela-se muito para o olhar contemplativo, mas sem aprofundamento. Não há um mísero choque, ou conflito, que cresça a trama. Apenas o ótimo trabalho de seu trio protagonista, mas que não é capaz de produzir, sozinhos, uma boa história. Temos, claramente, um projeto inacabado de Cronenberg.


No lado técnico, acertos para a trilha sonora de Howard Shore e o design de produção de Carol Spier, que pelo menos, acompanha o lado grotesco, no bom sentido, apresentado.


No fim, “Crimes do Futuro” se mostra, tão somente, como um bonito rascunho de Cronenberg, mas que não satisfaz o público, completamente, em seu desenvolvimento.



Nota: ⭐⭐ (Ruim)

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