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A palavra emoção já
define quase todas as histórias contadas para o cinema sobre astronomia. Pense
nisso, somado a um roteiro que irá abordar a corrida espacial. Sinal de clichê
hollywoodiano, não é?
Pois saibam que o
diretor Damien Chazelle transforma o seu mais recente longa, “O Primeiro Homem”, em algo que subverte todas as nossas expectativas.
A começar por contar a biografia do astronauta Neil Armstrong, o primeiro homem
a pisar na lua, por uma perspectiva mais tranquila, contando sua trajetória de
oito anos até dar o grande salto da humanidade.
Para diferenciar
mais ainda do lado heroico que muitos veem em Armstrong, Ryan Gosling, que
protagoniza o filme, traz um homem de poucas palavras e expressões. Soma-se a
isso, a escolha de Chazelle por Linus Sandgren para direção de fotografia, onde
se vê uma preferência pela luz natural, similar a um documentário, já mostrando
desde o início do filme que não teremos nada do ideal heroico que já vem de
anos na nossa cabeça.
Todo o processo
para ida a lua é mostrado da forma mais burocrática possível, e isso não é um
demérito, só nos mostra como foi difícil, monótona e extremamente longa, a
aventura de Neil até sua grande conquista.
Na trilha sonora,
Chazelle retorna com sua parceria com o compositor Justin Hurwitz, novamente
trazendo uma sintonia entre som e imagem. Até mesmo o silêncio é bem colocado,
em momentos chaves. Tudo isso nos dá uma sensação extremamente claustrofóbica
dentro dos veículos espaciais até o ápice, quando Armstrong e Buzz Aldrim
finalmente pisam na lua.
Em relação aos
sentimentos, tudo é sincero, nada é fabricado e conseguimos ver o melhor de
cada componente no elenco. Em especial Ryan Gosling, como um astronauta
charmoso ao mesmo inexpressivo, como Armstrong era, e Claire Foy que faz a
Janet, esposa de Armstrong, que acaba funcionando como a verdadeira chefe da
família, na ausência do marido.
É de se elogiar
também que o Armstrong de Gosling consegue identificação do público, pois o
longa esclarece seu principal defeito logo no início: não conseguir ao menos um
diálogo com seus filhos, o transformando em um ser humano normal, com problemas
dentro de casa.
Para você que ainda
não viu o filme, é bom se preparar e ter muita paciência, pois entre o primeiro
e terceiro ato, há muita informação. A harmonia vem pela estética um pouco mais
leve, somada a já elogiada trilha sonora. Entretanto, 30min de filme poderia
ser cortado tranquilamente.
Resumindo, “O Primeiro Homem” acerta nos diálogos e
na desconstrução do lado heroico do protagonista. Talvez se o filme não desse
um passo tão gigante, poderia ter se transformado como uma obra-prima da sétima
arte. Mas vale a pena ser assistido.
Classificação: Bom (4 de 5 estrelas)
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