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Não há dúvidas de que “O Iluminado” é uma das maiores histórias de
terror, tanto do cinema quanto da literatura. Embora tenha sido retratada de
formas bastante particulares, nessas duas realidades, gerando um dos maiores desentendimentos
já visto, entre o autor do clássico de 1977, Stephen King, e o diretor da
adaptação do cinema, de 1980, Stanley Kubrick.
Isso se explica pelo fato de
Kubrick ter dado ao conto um aspecto mais pé no chão, eliminando muito da parte
surreal. Nisso, King acabou destroçando o trabalho realizado pelo
cineasta, fazendo com que o escritor fizesse sua própria adaptação (no formato
de minissérie), além de produzir uma continuação em 2013, o chamado “Doutor Sono”.
Parte-se disso um grande
questionamento: O que fazer quando alguém decide adaptar “Doutor Sono” para o cinema? Seguir a visão original
de King? Ou continuar o trabalho realizado por Kubrick?
Esse conflito é visível na moldagem que chega aos cinemas, nessa semana. Com roteiro e direção de Mike
Flanagan (“A Maldição da
Residência Hill”), a trama agora foca em Danny, já adulto –
interpretado por Ewan McGregor –, após 30 anos do ocorrido no Hotel Overlook.
Nesse momento, Danny se perdeu em seu trauma, tentando reprimir seus poderes,
através da bebida e das drogas. Entretanto, a forte decadência que toma sua
vida acaba fazendo com que ele se mude para uma cidade do interior, com
objetivo de recomeçar do zero.
Já recuperado, ele arruma um
emprego de enfermeiro num hospital, utilizando-se de seus poderes para ajudar
aqueles que estão à beira da morte. Porém, o “brilho”, soltado no uso de suas
capacidades, acaba chamando a atenção de um grupo, intitulado “Verdadeiro Nó”, que
tem um objetivo claro: Se alimentar dessa essência habitada não só em Danny,
mas também em outras pessoas, em especial numa menina, chamada Abra (Kyliegh
Curran).
Voltando ao conflito “King vs
Kubrick”, a trama apesar de focar na obra de King, traz de Kubrick o seu jeito
de filmar. Desde a movimentação de câmera, até a reconstrução do Hotel
Overlook, vista no filme do falecido diretor. Apesar do bom e velho “fã-service” funcionar na maioria das vezes,
a homenagem realizada, principalmente no terceiro ato do filme, o faz perder a
identidade própria, vista nos outros dois. Isso se vê, principalmente, no tempo
perdido em se reproduzir várias cenas icônicas do longa original, sem tanto
peso narrativo.
Acaba ficando mais gritante, quando
são escalados novos atores para retratarem as performances de Jack Nicholson e
Shelley Duvall, do primeiro filme. Não que referenciar uma obra de sucesso seja
ruim, mas tentar adaptar duas versões, livro e filme, que são bastante
particulares entre si, foi ao mínimo uma “burrice”.
Mais uma prova de que isso foi uma
má escolha acontece quando o cineasta, no meio da história, se esquece de
homenagear Kubrick, e parte para uma direção mais autoral, utilizando-se de
criatividade nos planos, lembrando muito o que foi visto na sua obra anterior,
a já citada, “A Maldição da
Residência Hill” (2018).
Mas nem só de problemas vive este
filme. O elenco trata-se do seu ponto mais forte. Ewan McGregor, no papel de
Danny, e Kyliegh Curran, fazendo a menina Abra, não deixam nada a desejar.
Embora, quem brilhe mesmo é a vilã construída pela atriz Rebecca Ferguson, que traz
um “Q” de sensualidade e intimidação, somando-se bem ao lado místico da
personagem.
Resumindo, Flanagan mostra-se um
cineasta até inteligente, que conta com um ótimo elenco e boa trama. Embora, a
tentativa de agradar “gregos e troianos” faça com que o filme não brilhe tanto
quanto o prometido.
Classificação: Regular (3 de 5 Estrelas)
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