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O Irlandês (Crítica)

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Apesar de tratar-se de um diretor completo, comandando inúmeros projetos, Martin Scorsese fez sua fama construindo um nome ligado aos filmes de gângster, em especial “Os Bons Companheiros” (1990), que se destacou pelo um novo estilo de narrativa e roteiro próprio, influenciando diversos nomes, de lá pra cá. Isso tudo fez com que Scorsese virasse um sinônimo de longas de máfia.

Embora, o principal chamariz para seus projetos, em minha opinião, trata-se do poder do diretor em trazer, ao público, uma reflexão sobre o existencialismo do homem, numa busca infinita por se sentir pertencente a um grupo ou propósito.

Apropriando-se dessa categoria consagrada, “O Irlandês” consegue juntar um grande elenco, encabeçado por Robert De Niro, Al Pacino, Harvey Keitel e Joe Pesci. Este último, em especial, por ter sido tirado de sua aposentadoria para uma atuação linda e singela.

Esse elenco estelar, inclusive, deixa como segundo plano, mas não menos importante, os desafios tecnológicos aceitos pelo diretor, em rejuvenescer seus atores diante da oportunidade de homenagear o cinema da Nova Hollywood, que lhe deu fama, e por que não, “cutucar” os grandes “blockbusters”, que segundo Scorsese, estão tirando o espaço dos nobres diretores das salas de cinema.

Mas nem só de reverência ao passado vive “O Irlandês”. Aqui, o diretor se mostra mais bem humorado, dando um tom bastante diferente do seu característico. Isso pode ser visto na montagem, que em nenhum momento busca agitação. O filme explora bem suas três horas e meia, dando um tom e ritmo cadenciado, o que no caso dessa história é bem vindo.

A narrativa, feita em primeira pessoa, é definida, exclusivamente, pelo seu narrador: Frank Sheeran (Robert De Niro). Ele que é o irlandês do título, que vive num asilo contando seus “feitos”, como um assassino carismático da máfia, enquanto está prestes a falecer. Nessa jornada, próxima do fim, é possível perceber um tom de arrependimento e culpa, que faz De Niro mostrar todo o seu talento, saindo um pouco do “piloto automático”, que tomou conta do ator, nos seus últimos trabalhos.

Mas quem dera que fosse só De Niro, o dono da grande interpretação do filme. Junto dele, vemos Al Pacino, engajando um duelo entre opostos, que se combinam perfeitamente na telona.

Para os detalhes técnicos, o que mais chama a atenção é a forma como o longa é filmado, de maneira lenta, amenizando muito a violência, dando um toque pessoal a história.

“O Irlandês” não é uma “montanha-russa”, mas sim uma crônica divertida sobre senhores mal humorados, que se transformam de homens assustadores em meninos frágeis.

E essa coragem em se produzir algo tão espetacular, aos 77 anos, mostra como Scorsese precisa ser ouvido, mesmo quando não concordemos com ele.

O cinema, até mesmo aquele composto por “Parques de Diversões”, agradece.


Classificação: Excelente (5 de 5 Estrelas)

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