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Apesar de lançado só agora,
em dezembro, “A Voz Suprema do Blues” respira muito do que foi visto, no
mundo, em junho desse ano, nas manifestações americanas, do Black Lives
Matter. O diretor do filme, George C. Wolfe, inclusive, declarou que seu
desejo inicial era lançar já naquela época. Porém, foi convencido pelos
produtores de que era melhor ser jogado para dezembro.
E mesmo com a “briga” de
datas, o texto correto e o elenco afiado ainda mantem a força que o filme
vende.
Baseado numa peça, de mesmo
nome, de August Wilson, Wolfe nos convida, em seu filme, para a Chicago de
1927, mais especificamente, num estúdio simples, onde não há ventiladores, e o
calor sentido lá, acaba acentuando a tensão, em quem trabalha nesse ambiente.
Lá, estão Ma Rainey (Viola
Davis) e sua banda, prontos para a gravação de seu mais novo disco. Porém, o,
já citado, calor esquenta os nervos de todos presentes, levando a um clima
pesado, principalmente entre a “Mãe do Blues” e o seu novo trompista, Levee
(Chadwick Boseman).
Com Denzel Washington na
produção, o filme lembra muito seu trabalho anterior, “Um Limite Entre Nós”
(2016), onde também éramos transportados para um ambiente menor, emulando um estilo
teatral, onde o mais importante era o diálogo.
A despeito de parecer mais
fácil, transportar uma peça teatral para o cinema não é tão simples. As linguagens
das duas artes são, completamente, diferentes de serem abordadas. E apesar de
todas as dificuldades, o roteiro redondo de “A Voz Suprema do Blues”
supera tal complexidade.
O espectador, ao contrário
do teatro, não fica imóvel na plateia, ele é convidado, pela direção de Wolfe,
a passear pelo cenário e entrar dentro do drama dos personagens, principalmente,
quando eles são desafiados a um conflito. Embora, nas poucas vezes que saímos
do estúdio, o filme se perca, tendo uma quebra grande no ritmo da proposta. Mas,
é de se ressaltar que boa parte do longa é em um único cenário, onde a maior
aposta fica nos diálogos, que funcionam bem, muito pelas grandes atuações.
Destaque para Viola Davis,
que mesmo coberta por uma maquiagem forte, mantém uma postura marcante, com
presença, e que convence bem, até mesmo aqueles que não conhecem muito sobre a “Mãe
do Blues”, Ma Rainey.
Entretanto, o maior brilho
do elenco não fica a mercê da protagonista, mas sim a Chadwick Boseman. No seu
último longa da carreira, o ator, que morreu em agosto de 2020, encarna bem um
personagem, que se mostra talentoso, mas que não possui um temperamento correto,
o que cria um peso forte para o papel. Ainda mais, se lembrarmos que naquele
momento das gravações, Boseman já estava lutando contra o câncer.
E mesmo com um ritmo
truncado, por algumas vezes, toda a atmosfera vista, principalmente pela bela fotografia,
aliada ao texto forte, faz com que “A Voz Suprema do Blues” ganhe uma
força gigantesca ao espectador, mesmo que ele não tenha todo o contexto da
situação proposta. E isso já vale!
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