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Um fenômeno bastante natural,
na produção de um filme, é a retirada do primeiro corte, algo bruto, que consta
todo o material filmado, onde o diretor vai lapidando, removendo a gordura do
produto, até que se crie uma narrativa palatável para os espectadores. “Liga
da Justiça de Zack Snyder” é isso, mas sem a última parte. Apesar de
parecer longo demais, a nova versão, pelo menos, tem uma personalidade própria,
algo oposto da vista em 2017.
O longa original HBO MAX,
traz Zack Snyder de volta ao controle da “Liga da Justiça”, dispensando
tudo que lembre a refilmagem finalizada por Joss Whedon (“Os Vingadores”),
sob a gerência da Warner, que exigia algo mais próximo a concorrente Marvel, no
que vinha propondo.
Apesar de todas as críticas,
que muitas vezes são justas, ao menos, Snyder tem uma visão própria. Enquanto a
Marvel sempre se caracterizou pelo seu lado humano, o diretor vê a Liga da
Justiça como a reunião dos grandes deuses, misturando bem as mitologias grega,
romana e cristã.
Snyder aproveita a longa
duração para brincar com sua personalidade, trazendo o melhor de cada personagem.
O filme de 2021 tem a mesma premissa do de 2017: Após a morte do Superman (Henry
Cavill), vista em “Batman V Superman” (2016), o Batman (Ben Affleck) decide reunir uma
equipe de heróis para combater um mal, que está por vir. Nesse meio tempo, a
Mulher-Maravilha (Gal Gadot) é alertada pelas Amazonas, da iminente invasão do
Lobo da Estepe (Ciarán Hindus), que decide ir para Terra, com objetivo de conquistar
para seu deus, o sombrio Darkseid (Ray Porter).
Embora a sinopse seja
parecida com a versão de 2017, a jornada é, completamente, diferente. Snyder se
aproveita das duas horas a mais, para melhorar as motivações pessoais dos heróis,
lhe dando camadas, e justificando, com maior veracidade, a importância de sua
junção. No caso do Ciborgue (Ray Fisher), Flash (Erza Miller) e Aquaman (Jason Momoa),
entendemos muito melhor suas visões de mundo, comparando com o visto nos
cinemas.
Especificamente no lado do
Ciborgue, vemos muito mais do herói atormentado, explorando mais do seu conflito
interno. Inclusive, é interessante a alegoria com aqueles que possuem deficiência
física.
O Flash, interpretado por
Erza Miller, é colocado aqui como o jovem que precisa amadurecer e entender seu
papel como herói, na sociedade.
Já o Aquaman, de Jason
Momoa, não traz nada muito novo. É, mais ou menos, aquele visto no seu filme
solo, mas que como se passa antes, mantém a relutância do herói, em assumir seu
trono.
Ben Affleck traz seu Batman
como o real protagonista da história. Focando num arco de redenção, abandonando
um pouco da sua obsessão vista, anteriormente em “BVS”, Bruce Wayne se
mostra um homem utilizando-se da fé, como pilar. A Mulher Maravilha, de Gal
Gadot, volta com seu carisma e até melhora, em questão de objetividade, da
personagem vista nas suas histórias solo.
Talvez o herói que mais
perde, se comparado ao filme dos cinemas, é o Superman, interpretado por Henry
Cavill. Mesmo assim, sua jornada é importante, e a escolha de tempo é
compreensível, se pensarmos que ele já teve seu filme solo.
O estilo do diretor é 100%
colocado nos personagens. Todos eles são mostrados como mitos, utilizando-se
bastante da câmera lenta, emulando quadros do renascimento. Até mesmo, os fãs
do Snyder irão estranhar o uso excessivo desse recurso.
Tal como Tarantino, Zack
Snyder divide a trama em seis capítulos e um epílogo, que até ajuda no ritmo da
trama, visto as quatro horas de duração. Mesmo assim, há momentos de gordura,
que poderiam ser cortados para o aprimoramento da narrativa. O Coringa (Jared Leto),
por exemplo, melhora muito do que foi visto, anteriormente, no Universo, porém
é meio que desnecessário para a história.
Mesmo contendo excessos, a
versão Snyder de “Liga da Justiça” tem um sentido lógico, como um fenômeno
cultural, que é bem melhor que a versão cinematográfica, se tornando o melhor
trabalho do diretor, dentro do Universo DC.
Nota: ⭐⭐⭐⭐ (Ótimo)
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