Pular para o conteúdo principal

Judas e o Messias Negro (Crítica)

ultraverso.com.br

Uma interessante história real, porém, nas mãos do diretor errado pode se tornar um grande crime cinematográfico. Vide dois vencedores do Oscar, como “Histórias Cruzadas” (2011) e “Green Book: O Guia” (2018), que, erroneamente, transmitem um relato racial, a partir da visão de um protagonista branco, ao invés de dar voz ao verdadeiro personagem, que sofre o conflito.


Felizmente, “Judas e o Messias Negro” não se enquadra nesse problema. Muito pela visão do diretor Shaka King, que decide trazer uma perspectiva própria para a causa negra americana, em meados da ascensão de Fred Hampton.


Originário da revolta contra a violência policial americana, na década de 60, o partido dos “Panteras Negras” foi um expoente na luta afro-americana, com o princípio da defesa armada. Criado pela dupla de universitários, Huey P. Newton e Bobby Seale, o movimento se expandiu bastante com a chegada da liderança de Hampton (Daniel Kaluuya).


Ele, em seus discursos, defendia uma forte aliança entre todos os cidadãos, que queriam defender a existência dos direitos civis a todos. Mas, “Judas e o Messias Negro” não aposta no óbvio. Ao invés de ir à biografia clássica, ele apela para a visão de um infiltrado do FBI, no movimento, que acabou tornando o braço direito de Hampton. Claro que estou falando de Bill O’Neal (LaKeith Stainfield).


LaKeith carrega em seu personagem questionamentos profundos, vindos de um conflito interno, que busca a salvação pessoal, em detrimento da traição de seus “irmãos”. Daí o Judas do título do filme.


Preso por ter cometido um assalto, O’Neal é forçado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a trabalhar como espião do FBI, dentro do movimento dos Panteras, com o intuito de escapar da cadeia. Sem dúvida, aqui está o grande acerto do longa: O conflito está no movimento interno, e não no maniqueísmo “Brancos vs Negros”.


Embora a montagem falhe na criação de tensão, pois a mesma só atinge isso nos dez minutos finais de longa, a atuação da dupla protagonista salva esses pequenos erros. Enquanto Stanfield equilibra os momentos de dor e frieza, Kaluuya transmite a fúria e o carisma do grande líder. Assim, embora diferentes, os dois personagens se complementam.


“Judas e o Messias Negro” se torna especial pela boa exploração da dupla protagonista, nos fazendo refletir, principalmente no caso do personagem de Stanfield, o que faríamos no lugar deles. E apesar da morosidade do segundo ato, o final catártico compensa o espectador.


Trata-se daquele filme que, apesar de possuir pequenos problemas no seu aspecto mais técnico, ganha na força da história, que puxa para si, com sua importância, e eleva o tom do longa.



Nota: ⭐⭐⭐⭐ (Ótimo)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Arremessando Alto (Netflix) – Crítica

cinepop.com.br Embora tenha sucesso, de público diga se passagem, nas comédias, o ator Adam Sandler já não causa mais surpresa quando aposta em projetos mais dramáticos. Aliás, essas escolhas, geralmente, são acertadas. Ele já trabalhou com diretores do alto gabarito, como Paul Thomas Anderson ( “Embriagado de Amor” ), os Irmãos Safdie ( “Joias Brutas” ), Noah Baumbach ( “Os Meyerowitz” ), Jason Reitman ( “Homens, Mulheres e Filhos” ). Todos esses exemplos, longe da sua produtora, Happy Madison . Apesar da desconfiança, “Arremessando Alto” pode ser a exceção que confirma a regra, de que Sandler “não dá certo” produzindo e atuando, ao mesmo tempo. O filme, recém-lançado, na Netflix, traz um Adam Sandler mais próximo do real, já que o ator é um fã confesso de basquete. “Arremessando Alto” é dirigido por Jeremiah Zagar ( “We The Animals” ), e traz Sandler na pele de Stanley Surgerman, um olheiro do Philadelphia 76ers, tradicional clube da NBA, a principal Liga de Basquete Am

Continência ao Amor (Netflix) – Crítica

tecmundo.com.br “ Continência ao Amor” , sem dúvida, pelo menos, em termos de popularidade, é um dos maiores sucessos da Netflix, no ano. Liderando por semanas, em visualizações, o filme é do gênero romance, e apela para tropes básicos como: um casal formado por opostos, inicialmente precisando fingir um relacionamento, porém desenvolvendo maiores sentimentos. A direção é comandada por Elizabeth Allen Rosenbaum, experiente em produções focadas no público jovem. Aqui, ela, pela primeira vez, tenta trazer uma obra, um pouco, mais dramática, enquanto equilibra uma série de clichês. Embora tenha até êxito nisso, a primeiro momento, os desdobramentos, desse aspecto mais sério, não acompanham a narrativa. Na trama, em si, conhecemos Cassie (Sofia Carson), uma jovem latina e liberal, que encontra Luke (Nicholas Galitzine), um rapaz militar e conservador, que possui uma relação distante com seu pai. No sentido de apresentação de seus personagens, até que o filme funciona. O bás

Ghostbusters: Mais Além (Crítica)

cinepop.com.br Mais do que fantasmas, os cinéfilos tinham medo eram das continuações de “Caça-Fantasmas” (1984), que no filme original era estrelado por Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Ramis e Erine Hudson, com direção de Ivan Retiman.   Depois de tantas decepções, em suas sequências, será que precisaríamos de mais uma? A Sony acreditava que sim, e lançou “Ghostbusters: Mais Além” , que tenta homenagear o original, mas também seguir em frente, como o possível início de novas aventuras.   Na trama da vez, iniciamos com uma mãe viúva e seus dois filhos sendo obrigados a se mudarem, para uma casa isolada, no interior. Localizada na fazenda do avô das crianças, se descobre que o local possui uma ligação com o Universo dos Caças-Fantasmas.   A direção de “Ghostbusters: Mais Além” fica a cargo de Jason Reitman, filho do diretor dos originais, que recebe a incumbência de retomar a franquia do pai. Embora pareça apenas uma escolha pelo parentesco, é importante ressaltar que ele vem de traba