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Chloé Zhao é uma diretora de
curta carreira, mas que já chamou atenção logo no seu terceiro filme, “Nomadland”
(2020), que lhe rendeu o Oscar, tanto de Melhor Filme, quanto Melhor
Direção. Antes mesmo de sua coroação, ela já havia sido escalada para dirigir “Eternos”,
novo filme do Marvel Studios, focado na história de seres superpoderosos, presentes
na Terra, há sete mil anos.
O que, a primeiro momento, é
estranho, pois estamos diante de uma artista com carreira no cinema independente,
que gosta de utilizar, de preferência, atores não profissionais. Ela nunca
havia estado envolvida na produção de um blockbuster.
Assim, surge a dúvida: Kevin
Finge, presidente do Marvel Studios, iria ter coragem de reduzir Chloé Zhao,
uma diretora autoral, vencedora do Oscar, ao estilo homogêneo da franquia? Ou
teríamos um equilíbrio maior?
“Eternos”, assim,
se apresenta como um filme grandioso, que procura aliar bem, embora não em todo
momento, a visão particular da diretora com o planejamento da Disney. É como um
casamento, onde cada um teria que renunciar a algo. E apesar de não ser o melhor
filme do MCU, “Eternos”, talvez, seja o mais interessante.
Se apropriando de flashbacks
expositivos, o filme abraça sua filosofia própria, e tenta tirar reflexões do espectador.
Desde o início, Sersi (Gemma Chan), Ikaris (Richard Madden), Giglamesh (Don
Lee), Duende (Lia McHugh), Phastos (Brian Tyree Henry), Kingo (Kumail
Nnajiani), Thena (Angelina Jolie), Makkari (Lauren Ridloff), Druig (Barry
Keoghan) e Ajak (Selma Hayek) sempre estão questionando suas próprias ações e o
papel dos Eternos na evolução da humanidade.
Sem entrar em spoilers, é
bom deixar claro que os Eternos não são, exatamente, heróis. Logo na abertura, já
é dito. Numa péssima sequência de ação, sem identidade, Sersi termina
entregando uma adaga a um jovem pescador (que acabou de perder o pai e não
possui reação alguma).
Guerras vão tomando o mundo,
durante séculos. Entretanto, Ajak, líder espiritual do grupo, lembra que os
Eternos não devem interferir em conflitos humanos. O grupo, após se discordarem
entre si, se separa, por séculos.
Nisso, o espectador já vê que
não se trata de um filme da Marvel comum. “Eternos” é um projeto mais
maduro. Aqui, temos menos piadas (quando aparecem, inclusive, destoam muito do
resto da trama), que dão clara sensação de que Kevin Finge foi no limite, na
questão de dar liberdade a Zhao. Embora, no fim, você perceba que a assinatura
do MCU está lá.
O fator MCU, aliás, é onde
estão os erros do longa. Além da má colocação de algumas piadas, temos cenas de
ação não tão grandiosas, e um vilão que, certamente, entrará no hall dos piores
do Marvel Studios.
Essa mão do estúdio frusta
bastante, porém, mesmo assim, Zhao consegue dar um tom particular em sua
jornada filosófica.
Na parte técnica, os efeitos
especiais estão ótimos. Ao contrário, por exemplo, do deprimente Shang-Chi,
aqui temos um terceiro ato impactante, com uma real sensação de grandiosidade e
realismo, que contrasta com o artificial/digital do longa anterior.
Sobre os personagens, o
saldo é misto. Cada “Eterno” tem uma personalidade própria e um drama
particular. Duende sonha em poder envelhecer, e sair do seu corpo de criança,
Phastos não confia mais na humanidade, Druig não consegue viver em sociedade. E
Gilgamesh que dedica sua vida a cuidar da amada Thena, que sofre com problemas psicológicos.
Porém, o foco em alguns personagens
desinteressantes decepciona. Ikaris é o clichê do homem poderoso e seguidor de
regras, sem muito background. A Sersi, apesar de mais tempo de tela, permanece com
o mesmo tom, durante todo o filme.
Com grandes acertos, mas
também com alguns erros, “Eternos” se mostra um filme bastante
interessante e promissor, apesar de não vingar 100%. É diferente, ao tentar
explorar um novo potencial para Marvel, porém o estúdio, em alguns momentos,
não abraça essa ousadia, e tira a possibilidade do filme brilhar.
Em resumo, nota 9 para
Chloé Zhao e 4 para Kevin Finge e sua turma.
Nota: ⭐⭐⭐ (Ok)
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