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O Último Duelo (Crítica)

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“O Último Duelo” já traz o peso da sua história, logo nos seus primeiros minutos, quando um de seus protagonistas, durante o século 14, dispara a seguinte frase: “O estupro não é uma agressão à mulher, mas uma violação a propriedade de seu marido”.


Embora tenhamos evoluído muito como sociedade, o empoderamento feminino ainda continua sendo necessário a discussão, tanto que as mulheres, corretamente, seguem lutando por seus direitos. Sendo ainda mais específico, vimos, a pouco tempo, o “Movimento Me Too” ganhando espaço, e denunciando inúmeras atrocidades, que aconteceram às escuras, no mercado cinematográfico.


Essa importante discussão só faz crescer o épico medieval, trago pelo diretor Ridley Scott, que também não se aborta do que de melhor o estilo oferece.


Indo para trama, conhecemos Marguerite (Jodie Comer), que acaba de se tornar esposa do cavaleiro Jean de Carrouges (Matt Damon). Embora casada, ela acaba despertando o interesse de outro nobre, Jacques Le Gris (Adam Driver).


Durante uma viagem de Carrouges, Le Gris acaba invadindo o castelo do casal, e encontra Marguerite sozinha. Obcecado, ele acaba atacando e estuprando a moça. Ainda por cima, termina todo o ato, com uma ameaça.


Esse caso ganhou grande repercussão, na história, pelo fato de Marguerite, ao contrário de outras mulheres violentadas, ter levado o caso adiante. Ela contou o ocorrido ao marido (lembrando que, na época, a mulher era considerada propriedade do homem) e ambos foram à luta por justiça. Carrouges, com a benção do rei Charles VI (Ben Affleck), desafia Le Gris para um duelo até a morte.


A direção do experiente Ridley Scott é perfeita, no aspecto de ambientar seu espectador a época situada. “O Último Duelo” mescla, perfeitamente, o sentimento pessimista da Idade Média, atrelado a um mundo sem esperança. Cenário perfeito para uma história de vingança e injustiça.


O roteiro é assinado por Nicole Holofcener, Matt Damon e Ben Affleck. Os dois últimos repetem a parceria, de atuação/roteiro, de “Gênio Indomável” (1997). A estrutura de três atos, aqui, é encaixada, de forma exata, trazendo três pontos de vista do ocorrido.


O primeiro ato é escrito por Damon, contando o ponto de vista de Carrouges. Affleck fica encarregado do segundo, focando na ótica de Le Gris. E Holofcener encerra com a narrativa de Marguerite. Nisso, a masculinidade exacerbada da maioria do filme é, perfeitamente, explicada, quando colocada a crítica, pelo terceiro ato, na perspectiva da personagem de Comer.


Quando ela toma conta do protagonismo da trama, trazendo a verdade de toda a história, “O Último Duelo” brilha, dando a protagonista o equilíbrio perfeito, a partir da força da voz da personagem que luta por justiça. Soma-se a isso ao excelente trabalho de Jodie Comer, ao implantar uma delicadeza a suas expressões, mas contendo aquela fúria, dentro de si. Isso é perceptível ao espectador.


Certamente, “O Último Duelo” pode ser visto como apenas um filme correto, em sua estrutura, durante a maioria dele, porém seu terceiro ato é engradecido ao máximo, com o trabalho de Comer, que eleva para uma resolução impecável.



Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐ (Excelente)

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