Pular para o conteúdo principal

Mães Paralelas (Netflix) – Crítica

uol.com.br

Quando vamos analisar qualquer obra, de algum artista específico, sempre devemos separar bem o que é repetição (comparando com os trabalhos anteriores), do que é da natureza do indivíduo, algo inerente da personalidade do autor. Vira problema quando o público, com o passar do tempo, vê que o artista cai na paródia de si mesmo, e não consegue se inovar, mesmo que mantenha um padrão temático.


Um diretor que, certamente, não sofre disso é Pedro Almodóvar. “Mães Paralelas”, seu novo longa, traz temas recorrentes, em sua filmografia, como a centralização do papel da mulher, a neurose humana e a linguagem novelesca. Soma-se isso a fotografia, de José Luis Alcaine, e a direção de arte, de Antxón Gómez, que retoma o senso teatral conhecido.


O diferencial de “Mães Paralelas” é a boa cadência, na distribuição dos elementos e das reviravoltas, onde permite ao espectador respirar e digerir todas as ações e as consequências delas, para os personagens. Muito pode se dizer que essas viradas são previsíveis, porém não interessa, o mais importante, aqui, é o que elas irão gerar. A consequência é o relevante, não a causa.


Almodóvar, agora, conta a história de Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), que se conhecem na maternidade de um hospital, num momento importante de suas vidas: elas estão prestes a darem à luz. Apesar da diferença de idade, ambas as mães são bem parecidas, no fato das duas não terem planejado a gravidez.


Elas também passam por um momento delicado, em suas vidas. Ana não tem o apoio de seus pais, e Janis, além da gravidez, precisa lutar contra a burocracia governamental, pois está em meio a um processo, que luta para uma escavação, no terreno de seu bisavô, morto pelo franquismo. Apesar de bem diferente do plot principal, o final recompensa conectando os dois focos.


No fim, “Mães Paralelas” recompensa, muito pelo estilo impresso, característico do diretor. Apesar da vasta carreira de sucesso, Almodóvar, mais uma vez, mostra que ainda tem o que dizer, e só nos resta, escutarmos.



Nota: ⭐⭐⭐⭐ (Ótimo)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Esposa (Crítica)

g1.globo.com “A Esposa” é o exemplo clássico de um filme comum, que tem uma história simples e nada edificante, mas que cresce com uma grande atuação, que nesse caso é Glenn Close. Aqui, Close entrega uma personagem magnífica e explosiva, utilizando-se da luta do feminismo, que cresce bastante nos últimos anos. A história do filme foca no casal Joan e Joe Castleman (Close e Jonathan Pryce). Ele é um escritor bem sucedido e aclamado, e ela, aos olhos da sociedade, é apenas a esposa. Entretanto, quando Joe está prestes a ganhar o Nobel de Literatura, a relação chega ao estopim. O longa foca nos momentos chaves da vida do casal, utilizando-se também de flashbacks , para mostrar o porquê da personalidade de cada um dos dois. Vemos como eles se conheceram, onde ele era um professor casado e ela, uma estudante sonhadora. Isso bate em cheio com o pensamento dela atual, de que se arrepende do caminho que trilhou ao lado do marido, como uma mera esposa, largando de vez sua carrei...

007 - Sem Tempo para Morrer (Crítica)

olhardigital.com.br É quase um consenso que para ser um 007 básico, você precisa de um terno preto, gravata borboleta, manusear bem armas, cabelo cortado e um charme próprio. Ainda assim, é possível dar originalidade a cada adaptação. Prova disso está no influenciador Sean Connery, no “sexy” Pierce Brosnan e no emotivo Daniel Craig, que fizeram com que a franquia pendurasse tanto tempo, entre nós. Vendido como a despedida de Craig no papel, “007 – Sem Tempo Para Morrer” começa com um Bond querendo se aposentar. Vivendo na Jamaica, junto de sua amada Madeleine (Léa Seydoux), James precisa voltar a ativa, quando é solicitado por Felix Leiter (Jeffrey Wright), membro da CIA. Leiter precisa que Bond o ajude a combater uma ameaça global, liderada por Lyutsifer Safin (Rami Malek), que está desenvolvendo uma tecnologia que pode destruir a humanidade. Além de Safin, Bond ainda precisa deter a Spectre, organização lá do filme anterior, que permanece na ativa. Aumentando ainda mais ...

Nada de Novo no Front (Netflix) – Crítica

cnnbrasil.com.br Como diria o filósofo francês Jean-Paul Sartre: “Quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem” . Partindo dessa visão mais perversa da Guerra, surge “Nada de Novo no Front” , filme alemão épico de guerra da Netflix. Baseado no romance homônimo, de Erich Maria Remarque, o longa foca-se na história de Paul Baumer (Felix Kammerer), um jovem que acaba de chegar no exército alemão. Devoto fervoroso ao sentimento de patriotismo, ele nem imagina o que irá ter que passar, para que sobreviva, durante a Primeira Guerra Mundial. Essa surpresa vem muito pelo fato de estarmos diante da primeira grande guerra. Ou seja, os soldados, até então, não possuía um mínimo de ideia do que enfrentariam pela frente, já que só se ouvia as “glórias”, relatadas por seus superiores. Esse Ultranacionalismo, que é vendido, é posto, no filme, em todo o primeiro ato. Visivelmente em tela, a fotografia é esplêndida, focando no deslumbre de jovens sonhadores, que se veem...