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Medida Provisória (Crítica)

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Medida Provisória” é a estreia de Lázaro Ramos, como diretor. Algo, que ocorreu, recentemente, com um amigo e conterrâneo seu, Wagner Moura, em “Marighella” (2021).


Mas a semelhança vai além da terra de origem de seus idealizadores. Ambos os filmes foram centros de debates, relacionados aos conflitos entre as produções e a Agência Nacional de Cinema/Governo Federal. Muito por conta do grande teor político, de ambas as obras, em tempos de intolerância e polarização. Ainda sim, é de se comemorar, enfim, suas estreias e a oportunidade de gerar ótimos debates ao público.


Aqui, em “Medida Provisória”, temos uma história que se passa num futuro distópico, onde o governo brasileiro emite uma Medida Provisória, que obriga a todos os descendentes de escravos a retornarem ao país de sua ancestralidade. A princípio como caráter sugestivo, a medida vai se tornando obrigatória, e transforma tudo numa grande perseguição racial.


Nesse contexto, acompanhamos o casal Antônio (Alfred Enoch) e Capitu (Taís Araújo), que estão em lugares distintos, lutando para se reencontrarem, em meio ao caos. Pra completar o elenco principal, temos Seu Jorge vivendo André, um jornalista, Adriana Esteves como Isabel, uma funcionária pública, e Renata Sorrah, que vive Izilda, uma vizinha do casal principal. Essas duas últimas, sendo retratadas como as grandes antagonistas da história.


O roteiro, aqui, é de autoria de Lázaro e Luisa Silvestri (“Estômago”), adaptado da peça “Namíbia, não!”, de Aldri Anunciação. A história mescla bem uma tensão e uma pitada de comédia. Esse último aspecto, muito focado na figura de Seu Jorge.


Outra curiosidade interessante, a se ressaltar, é o fato da dupla antagonista ser interpretada por duas atrizes, que viveram as maiores vilãs da teledramaturgia brasileira. Algo, que para o espectador mais atento, gera um lado cômodo. Ainda nisso, destaque também para a escolha do nome Isabel, para a personagem de Adriana Esteves, trazendo todo o simbolismo da princesa português, que assinou a Lei Áurea, em 1888.


Triste é o fato do limite da produção. Nisso, o filme se torna, em muitos momentos, algo contido, que impede a exploração de um universo rico, sobre uma bela premissa.


Ainda sim, é de se elogiar a bela fotografia, que explora bem a construção do estilo distópico, com enquadramentos rápidos, e soluções criativas, vide a limitação orçamentária da produção. Nisso, para seu primeiro filme, Lázaro Ramos, como diretor, faz um golaço.


Para a trama em si, é lindo a intenção por trás do filme, sobre o aspecto atual, do nosso país. “Medida Provisória” é um grito contra a opressão, e uma reflexão para os brasileiros, sobre a formação do Brasil. Essa coragem, aliada ao talento, já vale. Ramos, em seu filme, acerta em cheio, na principal função da arte: Nos fazer, como espectadores, refletir.



Nota: ⭐⭐⭐⭐ (Ótimo)

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