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Todo bom mistério, ainda mais se for escrito ou por Arthur Conan Doyle, ou por Agatha Christie, é caracterizado pelo constante senso de perigo. Porém, em “Enola Holmes 2”, os personagens são as maiores peças, que serão utilizadas para desvendar o grande mistério da trama, que no caso é o enigma. Assim, o perigo, em questão, não é o mais importante.
Nisso, “Enola Holmes” (2020) utilizou-se do formato, da sua maneira, aliviando o jeito de contar esse tipo de história, dando a sua protagonista uma gama de contatos, que não só lhe auxiliariam na investigação posta, mas também lhe garante um mínimo de jornada emocional. Enola (Millie Bobby Brown), além de resolver seus casos, precisa lidar com os ensinamentos da mãe, Eudoria (Helena Bonhan Carter), a rivalidade com o irmão “famoso” Sherlock (Henry Cavill), e o deslumbramento do primeiro amor, com Tewkesburty (Louis Partridge).
Na direção e no roteiro, temos a volta da dupla Harry Bradbeer e Jack Throne, que lidam com a responsabilidade de manter o ritmo acelerado do longa anterior, e, como uma sequência, aumentar os acertos do primeiro filme. De certa forma, essa tarefa pesada fez mal para o longa da vez, e isso fica visível.
Na trama inchada, Enola, apesar de se tornar uma investigadora estabelecida, precisa lidar com o fato de todos a verem à sombra de seu irmão, Sherlock. Com poucos casos, um, em específico, chama mais a atenção da jovem. Ela terá que investigar o desaparecimento de uma menina, que trabalha numa fábrica de fósforos. Desaparecimento este, que é ignorado pelas autoridades.
O objetivo do roteiro é claro, ele foca toda a força para a protagonista, a fazendo enfrentar inúmeros percalços, seja da própria investigação, seja do machismo imposto, pela sociedade. Este último, tem um detalhe especial, já que o filme coloca mulheres como figuras centrais da trama.
Porém, mesmo com boas ideias, a estrutura é a já conhecida do gênero, e não oferece grandes surpresas. Enola se infiltra, facilmente, nos lugares, conversa com todos, sem menor cerimônia. Salva-se apenas o carisma de Bobby Brown, que, ao mínimo, distrai o espectador, da facilidade imposta pelos desafios. O longa sofre com a falta de ritmo, que gera a sensação de que o filme é interminável. Com um segundo ato truncado, as revelações finais não geram tanto impacto, pois o espectador já está exausto.
Como, no geral, o filme diverte em momentos chaves e a protagonista é, ao menos, carismática, não chega a ser uma tragédia. Mas sempre fica a sensação de que “Enola Holmes” funcionaria muito mais, se fosse uma série procedural e tivesse espaço para desenvolver-se.
Ou seja, temos bons momentos isolados, mas uma conexão não tão forte, que faz o filme ficar no meio do caminho. Se, ao menos, você procura apenas um passatempo, e não se importa tanto em raciocinar, durante a trama, vá em frente. Senão, fuja sem mistério.
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